sábado, 22 de novembro de 2025

O Paradoxo do Espelho Quebrado: Quando o Produto Critica a Fábrica

O Paradoxo do Espelho Quebrado: Quando o Produto Critica a Fábrica | Letionare.org

O Paradoxo do Espelho Quebrado

Como podemos confiar na crítica de educadores formados pelo mesmo sistema que condenam?

Há um refrão constante nos corredores da academia e nas salas dos professores, repetido com a certeza de um dogma religioso: "A escola precisa evoluir. Ela parou no tempo." A imagem evocada é poderosa e, admitamos, retoricamente eficaz. Compara-se uma sala de cirurgia do século XIX com uma atual — irreconhecíveis entre si — e faz-se o mesmo com uma sala de aula. Esta última, argumentam, permanece estática: um professor à frente, fileiras de alunos passivos, o modelo industrial de produção em massa aplicado ao intelecto humano.

O diagnóstico parece evidente. No entanto, ao aceitarmos essa premissa, deparamo-nos com uma contradição lógica fascinante, um verdadeiro nó górdio epistemológico. Quem são os principais arautos dessa necessidade urgente de mudança? Em sua esmagadora maioria, são profissionais — professores, pedagogos, doutores em educação — que foram, do início ao fim, moldados por esse mesmo sistema "arcaico" e "falido".

Eis o paradoxo: se a escola é uma fábrica obsoleta que produz pensadores defasados, como pode essa fábrica ter produzido justamente os indivíduos capazes de diagnosticar sua própria obsolescência? Se o sistema é tão ineficaz em fomentar o pensamento crítico necessário para o século XXI, como podemos confiar no julgamento crítico daqueles que são seus produtos mais acabados?

"Se o sistema é tão ineficaz em fomentar o pensamento crítico... como podemos confiar no julgamento crítico daqueles que são seus produtos mais acabados?"

A Falácia da Determinação Total

Para desatar esse nó, precisamos primeiro evitar uma armadilha lógica: a ideia de que a origem determina o destino. Argumentar que alguém formado por um sistema imperfeito é incapaz de conceber a perfeição (ou a melhoria) é uma falácia genética. Se assim fosse, nenhum progresso humano seria possível. A medicina evoluiu através de médicos formados por conhecimentos que hoje consideramos bárbaros. A democracia nasceu em sociedades que não a praticavam plenamente.

O ser humano possui a notável capacidade de transcendência. Somos capazes de observar o ambiente que nos moldou, identificar suas falhas e imaginar alternativas. A escola "velha", mesmo com sua rigidez, forneceu as ferramentas básicas — a alfabetização, o acesso à história, a lógica matemática — que, combinadas com experiências externas (cultura, tecnologia, crises sociais), permitiram que esses profissionais desenvolvessem uma visão crítica *sobre* a escola.

Portanto, o fato de serem "produtos do sistema" não invalida, a priori, a sua capacidade de julgá-lo. O espelho, mesmo quebrado, ainda pode refletir a realidade, ainda que de forma fragmentada.

O Verdadeiro Perigo: A Crítica Vaga

Contudo, a reflexão inicial não deve ser descartada tão facilmente. O perigo do paradoxo não reside na incapacidade de julgar, mas na qualidade do julgamento. O ponto nevrálgico da questão levantada não é apenas que eles criticam, mas que muitos "alegam que a escola precisa evoluir, sem dizer em quê, objetivamente".

Aqui a retórica do "sistema falido" serve muitas vezes como uma cortina de fumaça. É fácil apontar o dedo para uma instituição secular e clamar por "inovação", "disrupção" e "metodologias ativas". É muito mais difícil definir, com rigor objetivo, o que deve ser mantido e o que deve ser descartado.

Se o crítico foi formado pela "velha escola", ele corre o risco de estar preso aos paradigmas dela, mesmo quando tenta combatê-los. Ele pode estar propondo apenas uma nova roupagem para velhas práticas, ou pior, adotando modismos pedagógicos vazios como forma de negar sua própria origem, sem uma análise profunda das consequências.

Conclusão

Devemos confiar no julgamento desses profissionais? Sim, mas com uma saudável dose de ceticismo socrático. A validade da crítica não depende de quem a faz, mas da substância do argumento.

O paradoxo se resolve quando exigimos rigor. Se a escola antiga era ruim porque era passiva e dogmática, a nova crítica não pode ser igualmente passiva na sua aceitação de "novidades" e dogmática na sua rejeição do passado. A legitimidade do educador que critica a escola que o formou não vem da sua negação do passado, mas da sua capacidade objetiva e clara de desenhar um futuro que não seja apenas um reflexo invertido daquilo que ele combate.

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quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Ações Baratas? Uma comparação entre duas gigantes da tecnologia no Brasil

POSI3 vs LWSA3 — Comparativo Educativo - Letionare
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Positivo Tecnologia (POSI3) e Locaweb (LWSA3): dois mundos tecnológicos da B3

Vamos comparar duas empresas brasileiras ligadas à tecnologia, mas com modelos de negócio bem diferentes: Positivo Tecnologia e Locaweb. O objetivo aqui é entender como cada uma atua, sua volatilidade, política de dividendos e saúde financeira — de forma simples e educativa.

1. Modelo de Negócio

Positivo Tecnologia (POSI3)

A Positivo fabrica computadores, notebooks, celulares e equipamentos de automação (como urnas eletrônicas e terminais de pagamento). Seu negócio é voltado para o hardware — produtos físicos — e depende bastante do consumo, de contratos governamentais e do câmbio (importação de peças).

Locaweb (LWSA3)

A Locaweb é uma empresa de serviços digitais, como hospedagem de sites, e-commerce e soluções em nuvem. Atua com receita recorrente por assinatura, o que traz previsibilidade. O desafio é crescer mantendo rentabilidade e equilibrando aquisições com endividamento.

2. Volatilidade

Ambas as ações têm comportamento mais “nervoso” do que empresas defensivas:

  • POSI3: costuma ter volatilidade anual entre 45% e 55%, refletindo as oscilações de demanda por eletrônicos e margens apertadas.
  • LWSA3: volatilidade também elevada, em torno de 50% a 60%, pois o setor de tecnologia e internet é mais sensível a juros e expectativas de crescimento futuro.

Em resumo: ambas têm alto risco de curto prazo, o que pede cuidado de quem busca estabilidade.

3. Pagamento de Dividendos

Positivo paga dividendos de forma esporádica — em alguns anos de lucro mais forte, distribui algo em torno de 1% a 2% ao ano. Já em anos de margens menores, pode não pagar nada.

Locaweb tem foco em crescimento e reinveste praticamente todo o lucro, não sendo conhecida por distribuir dividendos. Seu foco é expansão, não renda passiva.

4. Saúde Financeira

Positivo

A empresa tem receitas consistentes e boa participação no setor público, mas seu endividamento é sensível ao câmbio e às vendas de eletrônicos. Margens são apertadas e os resultados oscilam conforme o consumo e o dólar.

Locaweb

A Locaweb tem baixo endividamento e fluxo de caixa positivo, mas enfrenta o desafio de equilibrar custos de crescimento e concorrência no setor digital. O potencial de expansão é alto, mas depende da execução e do cenário de juros.

5. Comparativo Resumido

Aspecto POSI3 LWSA3
Modelo de Negócio Hardware e eletrônicos Serviços digitais e nuvem
Volatilidade Alta (~50%) Alta (~55%)
Dividendos Baixos e irregulares Praticamente nulos
Saúde Financeira Margens estreitas, sensível ao câmbio Boa liquidez, foco em crescimento

⚠️ Aviso: Este texto é apenas para fins educativos e não constitui recomendação de compra, venda ou manutenção de ativos financeiros. Investir em ações envolve riscos e cada decisão deve ser avaliada individualmente.

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© Letionare · Conteúdo educativo — não é recomendação de investimento.

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Carteira defensiva com 9 ações

Carteira Defensiva com 9 Ações - Letionare
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Blog · Investimentos

ATENÇÃO: este artigo tem caráter informativo e não deve ser entendido como uma recomendação de investimentos.

Carteira defensiva com 9 ações (B3)

Um guia simples para montar uma carteira de 9 ações defensivas — explicado de forma bem clara, como para uma criança de 10 anos.

O que é uma carteira defensiva?

Uma carteira defensiva é um conjunto de ações pensado para ser mais estável quando a economia fica difícil. Em vez de procurar só grandes ganhos rápidos, ela procura empresas que vendem coisas que as pessoas sempre precisam — água, luz, remédios, comida, serviços básicos — e que costumam pagar dinheiro (dividendos) para quem é dono da ação.

Objetivo

Proteger seu dinheiro das grandes quedas e receber renda (dividendos) enquanto o tempo passa.

Para quem é?

Para quem quer mais estabilidade, prefere menos emoção no bolso e deseja receber proventos (dividendos/juros) regularmente. Não é para quem quer ganhar muito rápido com apostas.

Como usar esta carteira

  • Escolha quanto quer investir no total.
  • Divida mais ou menos igualmente entre as 9 ações (ou ajuste conforme conforto com cada empresa).
  • Reveja a carteira a cada 6–12 meses ou quando acontecer algo muito grande nas empresas.

As 9 ações defensivas (B3) — com um racional curto

1. ABEV3 — Ambev

Por que escolher: Ambev fabrica bebidas que as pessoas compram sempre (cerveja, refrigerante). Tem marcas fortes, grande participação de mercado e costuma gerar caixa estável mesmo em tempos difíceis. Empresa também tem histórico de distribuir dinheiro aos acionistas. :contentReference[oaicite:0]{index=0}

2. EGIE3 — Engie Brasil

Por que escolher: Engie é uma grande companhia de energia com usinas e contratos de longo prazo. Gera receita previsível e frequentemente paga bons dividendos — características típicas de empresas defensivas do setor elétrico. :contentReference[oaicite:1]{index=1}

3. TAEE11 — Taesa (unit)

Por que escolher: Taesa é empresa de transmissão de energia elétrica. Concessões de transmissão costumam ter receitas reguladas e estáveis, porque são serviços essenciais do sistema elétrico. Isso ajuda na previsibilidade dos lucros e nos pagamentos de dividendos. :contentReference[oaicite:2]{index=2}

4. SBSP3 — Sabesp

Por que escolher: Sabesp é a maior empresa de saneamento do Brasil e atende milhões de pessoas no estado de São Paulo. Água e esgoto são serviços essenciais e regulados — isto traz receita estável e previsível ao longo do tempo. :contentReference[oaicite:3]{index=3}

5. ITSA4 — Itaúsa

Por que escolher: Itaúsa é uma holding que controla empresas estáveis (ex.: participações em bancos, indústrias). A empresa costuma distribuir parte dos lucros e é vista por muitos investidores como fonte de dividendos e proteção relativa em diferentes cenários econômicos. :contentReference[oaicite:4]{index=4}

6. CPFE3 — CPFL Energia

Por que escolher: CPFL atua em distribuição e geração de energia em várias regiões. Serviços de energia são essenciais e costumam ter contratos longos, o que dá previsibilidade de caixa e potencial para pagar dividendos.

7. SAPR11 — Sanepar (unit)

Por que escolher: Sanepar presta serviços de água e esgoto no Paraná. Assim como outras companhias de saneamento, consegue receitas estáveis porque a água é um serviço de alta necessidade e com pouca sensibilidade à crise.

8. VIVT3 — Telefônica Brasil (Vivo)

Por que escolher: Telefônica (Vivo) é grande em telefonia e internet móvel. Telecom é um serviço usado diariamente; contratos, dados e assinaturas dão receita recorrente. Empresas de telecom possuem perfil defensivo por sua demanda constante.

9. FLRY3 — Fleury

Por que escolher: Fleury atua em medicina diagnóstica (exames, laboratórios). Saúde costuma ser defensiva porque mesmo em crises as pessoas precisam de exames e tratamentos — isso torna a receita mais resiliente comparada a setores cíclicos.

Resumo final (em 1 frase)

Uma carteira defensiva busca empresas que vendem coisas essenciais e que geram caixa previsível — isso ajuda a proteger seu investimento e a receber renda enquanto o tempo passa.

Fontes para fundamentos citados (exemplos): comunicados e notícias corporativas da Ambev, Engie, Taesa, Sabesp e Itaúsa. As empresas e indicadores devem sempre ser verificados nos relatórios e no RI antes de investir.

© Letionare · Conteúdo educativo — não é recomendação de compra.